O Brasil como um todo passou, nas últimas décadas, por um período de transição demográfica e epidemiológica. Junto com o envelhecimento da população, os indicadores de morbimortalidade por doenças infectocontagiosas sofreram reduções importantes, ao mesmo tempo em que as doenças crônicas não transmissíveis - DCNT cresceram significativamente. Hoje as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbitos na população. Este crescimento das DCNT está diretamente relacionado ao aumento do percentual de brasileiros com excesso de peso (sobrepeso ou obesidade), sendo este agravo nutricional associado à alta incidência de doenças cardiovasculares, câncer e diabete mellitus.
Se para o conjunto da população brasileira o fenômeno da transição epidemiológica é verdadeiro, pouco se sabe a respeito do que ocorre entre os povos indígenas. Ao mesmo tempo em que encontramos uma população jovem, na qual, as doenças infecciosas e parasitárias ainda representam uma grande presença na morbimortalidade, um aumento significativo das doenças crônicas não transmissíveis vem ocorrendo simultaneamente, gerando uma dupla carga de doenças. Dados isolados sugerem que, à medida que os povos indígenas intensificaram seu contato com o mundo urbano “ocidental”, as mudanças observadas no estilo de vida tradicional (hábitos alimentares, acesso regular aos alimentos e grau de atividade física, em especial) repercutiram, de forma negativa, em suas condições de saúde. Casos de excesso de peso, hipertensão arterial, dislipidemias, intolerância à glicose e diabetes mellitus, raros ou inexistentes há décadas, aparecem relatados na literatura atual com frequência semelhante ou maior do que aquela observada entre a população brasileira.