O ensino sobre populações tradicionais vem ganhando espaço nos currículos e debates acadêmicos, sendo um tema em crescente discussão nos cursos de formação em saúde. Contudo, a formação em saúde indígena ainda é pouco explorada em algumas universidades ou até mesmo inexistente no país.
O Projeto Xingu (PX) é o mais antigo projeto de extensão universitária em atividade no país, sendo referência em saúde indígena. Durante sua trajetória, o PX ofereceu aos alunos da UNIFESP estágios no Território Indígena Xingu (TIX). O estágio sempre funcionou como uma oportunidade para que os alunos pudessem compreender as particularidades das populações tradicionais que vivem no TIX.
Atualmente o PX em parceria com o DSEI Xingu, recebe mensalmente estudantes da graduação e residência dos cursos de medicina e enfermagem de todo o país. Dentre os residentes de medicina, destaca-se a maior participação da área de Medicina de Família e Comunidade.
Durante o estágio, temos como principais objetivos proporcionar o desenvolvimento de pessoas, promovendo o intercâmbio de experiências e reflexão compartilhada, apresentar a organização do serviço de saúde no TIX, explorar os princípios da atenção diferenciada aos povos indígenas e estimular o desenvolvimento de uma prática intercultural em saúde.
Entre os anos de 2021 e 2023, estagiaram no TIX 06 graduandos de medicina, 32 residentes de medicina de família e comunidade, 04 residentes enfermeiros de saúde da família e comunidade e 01 residente médico de outra área. No território, as equipes de saúde foram capacitadas para a recepção e preceptoria desses estagiários.
Para participar dos estágios, basta seguir o fluxo abaixo:
- Inicialmente, é necessário preencher um formulário (link abaixo), em seguida os formulários serão avaliados e respondidos via email.
- Após o aceite no estágio, é necessário participar do grupo de alunos (colocar o LINK PARA GRUPO DE ALUNOS) do Projeto Xingu/UNIFESP, que se reúne online quinzenalmente para discutir temas relevantes sobre os povos indígenas.
- No mês anterior ao estágio, o estagiário é incluído em um grupo de whatsapp para organização da viagem e discussão de materiais escritos e audiovisuais.
- Após o estágio, é necessário produzir um relatório e participar de uma reunião para realizar a devolutiva do estágio.
Para participar clique aqui e preencha o formulário
Acompanhar a discussão dos pajés foi gigante para a minha formação. Lembro de uma das frases que ficou marcada para mim: “algumas coisas se resolvem em um encontro, outras realmente levam tempo”. Isso, tão simples e talvez tão óbvio, mas de um ensinamento que muito nos falta na rotina do centro de saúde na cidade – o respeito ao tempo das coisas.
Minha vivência no Xingu foi de extrema importância na minha formação enquanto pessoa cidadã, profissional. Exatamente por entender que existem as diferenças, que todos somos seres humanos e portanto, falhos. Interessante entender que existem outras formas de organização e estrutura social possíveis, com todas suas vicissitudes, tentando mesclar a boa prática médica aos saberes e costumes tradicionais, de forma a estabelecer uma relação cooperativa e não de relações de saber-poder.
O contato com os indígenas, vivenciar parte do seu estilo de vida, conhecer essa região do Brasil, ver a importância da luta dos povos indígenas e das pessoas que se dispõem a estarem juntos nessa luta, observar a relação de respeito com a natureza e como a comunidade se relaciona uns com os outros foi de uma riqueza tamanha….Conhecer novas culturas possibilita repensar a sua realidade e refletir sobre seus valores e sobre as relações humanas.
Ter essa possibilidade como matéria optativa foi uma oportunidade que seria muito benéfica se fosse parte do currículo da graduação médica. Ter projetos com o Projeto Xingu é uma possibilidade de mostrar aos futuros profissionais de saúde que a saúde indígena é um amplo campo de trabalho e uma possibilidade de trabalho futuro.
