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TIX - FORMAÇÃO AIS

 

Formação de agentes indígenas de saúde e de auxiliares de enfermagem indígenas no Território Indígena do Xingu (TIX)

 

A formação de agentes indígenas de saúde e auxiliares de enfermagem foi um marco na história do Projeto Xingu que resultou em uma nova forma de atuação na área de saúde, contando a partir desse momento, com profissionais indígenas no diálogo e na articulação com especialistas tradicionais e com as comunidades.

Conheça mais sobre esta história a seguir.

 

 

O início da formação - década de 1980

 

No início desta década, a enfermeira Estela Würker, que fez parte do grupo de alunos do Projeto Xingu, a Dra. Nair Tanaka, médica da Funai e a Dra. Sofia Mendonça da Escola Paulista de Medicina (EPM), começaram a ensinar jovens indígenas dos povos Yudja, Kawaiwete, Khĩsêtjê, Ikpeng, Panara e Mẽtyktire que estavam interessados em atuar na saúde, com o apoio de suas comunidades. Na época, eram chamados de “monitores indígenas de saúde”.

 

Auxiliar de enfermagem Poikô Suya treina a ausculta

Aigure Txicão aprende a ler lâminas para controle de malária

 

 

 

 

 

A formação e sua relação com a prática cotidiana na assistência e promoção de saúde

 

A formação dos monitores indígenas de saúde era desenvolvida durante o trabalho no atendimento clínico e nas ações de educação em saúde com suas comunidades, especialmente durante os surtos de malária, tuberculose, doenças diarreicas e doenças respiratórias que ocorriam na época.

 

 

A formação dos primeiros Agentes Indígenas de Saúde e Auxiliares de Enfermagem (1987/2001)

 

A partir de 1987, atendendo a reivindicação das lideranças e comunidades indígenas, a equipe de profissionais de saúde da EPM passa a desenvolver um processo de formação sistemática para 16 agentes indígenas de saúde de diferentes povos do TIX.

A formação foi desenvolvida através de etapas intensivas de concentração e de dispersão, quando eram acompanhados por médicos(as), enfermeiras(os) e odontólogos do Projeto Xingu no atendimento às comunidades indígenas e em ações educativas de saúde.

 

 

Yefuka Kaiabi, auxiliar de enfermagem explica sobre a transmissão da malária durante o curso de formação e o aux. de enfermagem Tymain Kaiabi atende pacientes no Posto Indígena Diauarum.

 

 

Maquete com o trajeto do paciente da aldeia para referências de saúde

Enfermeira e professora Lavínia de Oliveira e o auxiliar
de enfermagem Yanahin Waurá.

 

Aula com o Dr. Douglas Rodrigues.

 

O projeto pedagógico de formação

 

O projeto pedagógico teve como referência a realidade local, a interculturalidade e a intersetorialidade, considerando-se também a existência e vitalidade de um sistema de cura estruturado, composto por outros agentes de cura que fazem parte do itinerário terapêutico destes povos, como os pajés, raizeiros, rezadores e as parteiras, onde o agente de saúde, assim como outros profissionais da equipe multiprofissional, fazem parte.

 

 

A formação e o quadro epidemiológico nas décadas de 1980 e 1990

 

Nesta época as principais doenças presentes no TIX eram malária, diarreias, infecções respiratórias, tuberculose e algumas doenças de pele, sendo priorizadas na formação. Não havia doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), pois o consumo de sal, açúcar, óleo e de outros alimentos processados e ultraprocessados não era frequente. A alimentação tradicional era forte e os acessos às cidades limitados. No entanto, a partir de 1990, estradas de acesso aos municípios vizinhos passam a ser abertas, favorecendo a entrada e o consumo de alimentos industrializados trazidos das cidades e com isso, o surgimento dos primeiros casos de DCNT.

 

 

 

Proposta pedagógica

 

A metodologia teve como referência a pedagogia histórico-crítica, que busca através da problematização da realidade desenvolver encaminhamentos e soluções para os problemas, contando com a participação de diferentes atores: a equipe de saúde na qual se incluem os AIS e auxiliares de enfermagem, os pajés, raizeiros, rezadores, parteiras, lideranças, professores, jovens, mulheres e homens da comunidade, além de representantes de órgãos públicos e organizações não governamentais que atuam na região. O curso foi desenvolvido através de aulas expositivas, conversas, entrevistas, depoimentos, pesquisas, estudos de caso, simulações, demonstrações, dramatizações, construção de maquetes, pinturas, desenhos, jogos, exposições, atendimentos clínicos e reuniões com as comunidades voltadas para a educação em saúde.

 

O Projeto Xamã no TIX

 

Na década de 1990 a EPM participou da concepção, coordenação, execução e avaliação do Curso de Formação de Auxiliares de Enfermagem Indígena, no contexto do Projeto Xamã, em parceria com a Escola de Saúde Pública de Mato Grosso, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde. Foram formados 16 auxiliares de enfermagem indígena em 2001. Esta foi uma experiência pioneira responsável por reordenar a perspectiva de formação de recursos humanos indígenas no contexto da saúde.

 

 

Primeira turma de AIS e Auxiliares de Enfermagem

 

 

A enfermeira Marina Machado e os AIS que participaram da primeira formação.
Aulas durante a formação.

 

Cerimônia de formatura realizada na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

 

 

Formação da segunda turma de AIS e AISAN - 2005 a 2012

 

Curso Formação de Agentes Indígenas de Saúde(AIS)

 

A formação desta turma ocorreu de maneira articulada com o ensino fundamental. Foram formados 58 Agentes Indígenas de Saúde dos povos Khĩsêtjê, Ikpeng, Yudja, Kawaiwete, Kamaiurá, Trumai e Wauja, incluindo sete mulheres. O curso, desenvolvido pelo Projeto Xingu/Unifesp, contou novamente com a parceria da Escola de Saúde Pública de Mato Grosso para a certificação técnica e a Escola Indígena Estadual Central Ikpeng para a certificação no ensino fundamental.

Clique aqui para conhecer a proposta curricular

 

 

A equipe de docentes foi formada por médicos, enfermeiros, odontólogos, nutricionistas e educadores indígenas e não indígenas. A formação contou com temas relacionados aos conhecimentos tradicionais de saúde e o conhecimento biomédico. Os AIS e AISAN realizaram pesquisas com especialistas de seus povos sobre o uso de remédios tradicionais, regras e cuidados de prevenção de doenças e o trabalho dos pajés, dos rezadores e das parteiras. Ao mesmo tempo em que estudaram as concepções biomédicas sobre causas, sintomas e formas de prevenção das doenças mais comuns no TIX, sendo orientados para a realização de procedimentos biomédicos.

Os temas e áreas de conhecimento abordados no ensino fundamental estavam relacionados a conteúdos importantes para o desempenho profissional dos AIS e AISAN, contando com a participação de nove professores indígenas como docentes, além de outros professores com experiência de trabalho no TIX. Os professores indígenas atuaram nas aulas de língua indígena e portuguesa, matemática, geografia, ciências, história, geografia, antropologia e artes, fornecendo explicações e esclarecendo dúvidas dos alunos em sua língua materna.

 

Dra. Sofia Mendonça - AIS Loiware

 

 

Produção de materiais didáticos em saúde

 

Durante as aulas de línguas indígenas foram elaborados livros bilíngues sobre nutrição, contemplando concepções de cada povo a respeito deste tema. Os alunos fizeram pesquisas sobre os alimentos tradicionais, restrições alimentares e de comportamento em diferentes fases da vida relacionadas à saúde, principalmente no período da gestação e puerpério, envolvendo os cuidados tradicionais para que a criança tenha saúde. Nos livros foram valorizadas práticas de saúde tradicionais, como o uso de plantas medicinais, rezas, banhos, pintura corporal, arranhadeira e tratamentos com os pajés, assim como é discutido o papel do AIS e da equipe de saúde no acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das crianças.

Foram impressos em 2012 cinco livros dos povos Kĩsêdjê, Ikpeng, Kawaiwete e Yudjá, em parceria com o MEC e a UFMG, para serem utilizados como materiais didáticos nas escolas das aldeias.

 

Diário de Campo

 

Sessão Solene Unifesp - Davi Kopenawa